O sussurro da paz que excede todo o entendimento

By Carolina Pires - abril 01, 2018

registro de uma das conexões Palmas - São Paulo


Aquela sensação de observar o mar de nuvens da janela do avião arranca o meu melhor sorriso. E, em questão de segundos, entre uma tentativa ou outra de fotografar tamanha plenitude, ele se dissipa para a eternidade. Então, me instiga a curiosidade em desvendar como algo tão magnífico e tão próximo, a uma espessa janela de distância, pode parecer tão surreal? Será que estamos todos dentro de um sonho, embriagados pela esperança do eterno? Será que acordaremos quando pousarmos na terra das frustrações? Ah, se eu pudesse ao menos tocar e finalmente compreender o desconhecido que me rodeia... 

Eu arrasto minha bagagem pelas passarelas sinalizadas do aeroporto, pronta para enfrentar a realidade frívola do ser humano, e percebo que sou apenas mais uma mente colaborativa desenvolvida para ajudar o mundo a rodar. Mas e quando EU parar de rodar pelo mundo? Me tornarei apenas fotografia encardida nas mãos de descendentes nostálgicos que contarão a minha história. Enterrada com um belo vestido, com um emocionante discurso e com as mais lindas flores da estação. Nessas incertezas perambulantes, eu não buscava glória para minha existência, mas apenas uma resposta para compreender a roda gigante da vida.

Eu caminhei por muito tempo com esta bagagem de dúvidas, mesmo ciente daquilo que Cristo fez por mim. Eu sabia de cor e salteado, como uma boa cristã batizada desde criança. Até cantava no coral da igreja a história dos espinhos, do sangue, das chibatadas, da cruz e da ressurreição. Mas eu era incerta do meu próprio destino. Era tudo muito bonito, bem escrito, emocionante. Mas seria eu alguém tão importante ao ponto dos pequenos resquícios da minha existência serem um dia elevados ao céu, para que eu pudesse celebrar a dança da eternidade com as nuvens?
Me faltava fé. Como acreditar nesse tão pregado “amor incondicional”, que tem capacidade de transformar o coração corrupto do homem? Eu precisava atravessar a janela espessa do avião para tocar as nuvens e entender sua real beleza. Da mesma forma, queria uma prova concreta de todo o sacrifício de Jesus para poder me permitir senti-lo. E mesmo que eu tenha pedido, várias vezes, algo palpável não me foi dado. Eu precisava me desvencilhar das prepotências do meu ser para poder enxergar o inexplicável.

Eu vivi os dois lados da moeda. Cresci em uma casa regrada pelos mandamentos bíblicos, mas também me permiti descobrir quem eu era através de uma longa e liberta viagem entre os certos e errados, até que, em uma noite chuvosa de quarta-feira, o sussurro da "paz que excede todo o entendimento" me alcançou. Mesmo sem tocar as feridas de Jesus, fui preenchida pelo seu amor. Era a fé quebrantando uma pessoa tão controladora e ansiosa como eu e me ensinando a enxergar os milagres das pequenas coisas. O amor de Jesus refletido através do calor humano próximo, das pequenas conquistas da vida e da superação de dores insuportáveis. É loucura, eu sei, assim como está escrito em 1 Coríntios 1:18.

Embora eu tenha resumido esse momento acima de uma forma idílica, a palavra fé é, de fato, tão poética quanto irracional. Não faz sentido diante das injustiças do mundo, da maldade do homem e das mudanças do tempo e do espaço. Mas para aqueles que não somente olham mas que também enxergam, essa é a loucura que traz significado à vida. É o sussurro do amor que não se vê (por mais incoerente que essa frase pareça). É a esperança que não necessariamente nos enriquece por fora, mas que nos fortalece por dentro.

E mesmo que eu pouse na terra das transgressões, sem obter a oportunidade de sentir a suavidade das nuvens em meus dedos, estarei convicta de que os pequenos e passageiros resquícios da minha existência tem um propósito eterno!

  • Share:

You Might Also Like

2 comentários