Lá estava eu, encolhida em uma das pedras escorregadias da cachoeira de Tiriri e congelando com o encontro do vento e das gotículas de água na minha pele. Em um ouvido, os sussurros das muriçocas e da água corrente; no outro, as gargalhadas dos meus companheiros de viagem. Fechei os olhos e, por um momento me senti infinito. Flutuei pela linha do tempo e espaço, mas sem o tique-taque do relógio. Apenas concentrada nas sensações de bem-estar que aquela junção de fatores me proporcionava. Parecia que eu nunca mais sairia dali. Com certeza, mais um infinito ordinário para adicionar na coleção.
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No ano em que me mudei para São Paulo, adquiri um programa favorito para espantar a saudade dos domingos em família. Eu escolhia um livro na livraria cultura da Av. Paulista e me acomodava dentro de espaço em formato de dinossauro reservado para as crianças. Valia a pena burlar a plaquinha "apenas crianças e acompanhantes", porque eu me sentia acolhida ao ouvir as mães narrando histórias para os seus filhos - e ninguém parecia se importar, já que sou pequenina. Meu primeiro livro foi "As Vantagens de Ser Invisível", um best-seller que também se transformou em filme. Entre as histórias dramáticas de Charlie, o personagem principal, me atentei a uma cena interessante: Charlie estava de braços abertos em cima da carroceria de uma pick-up dirigida pelo seu amigo e, pelo simples fato dele sentir o vento se debater contra ele e de ouvir o eco dos seus gritos enquanto desbravavam um túnel qualquer, ele se descreve como um ser infinito naquele momento trivial: "I FEEL INFINITE". Aquela situação tão bem descrita no livro, se transformou em uma epifania e me apresentou a outro conceito desta palavra tão objetiva.
A sensação que Charlie sentia, transcendia a ideia de começo, meio e fim. E o simples fato de eu também já ter vivenciado isso, em um momento totalmente banal, me chamou a atenção àquilo que poderia ser um infinito ordinário: plenitude interna e eterna em parâmetros não-físicos.
A primeira vez que senti tamanha plenitude, foi quando estava de férias em Porto Seguro - antes mesmo de ler o livro e começar a usar esse termo. Era fim de tarde, minha hora preferida para curtir a praia. Andei sozinha pela areia, me distanciando das multidão de turistas até encontrar um cenário preenchido pelo o bar “Maresia”, totalmente vazio, apenas com a música “Lua Cheia, do Armandinho; a areia; o mar refletindo as cores do céu e eu. Me livrei da canga e da havaiana e comecei a boiar em sintonia com a água calma. O mar conduzia meu corpo enquanto eu encarava o céu limpo e cantarolava alguns trechos da música. Todos os elementos desse cenário estavam estáticos em relação ao resto do mundo, mas em movimento ritmado entre eles. Era como se a música estivesse no modo repeat e eu cantarolava o mesmo trecho, over and over again. E o coração pulsando, calmo como as ondas, fazendo com o que me sentisse que aquilo duraria pra sempre - e que bom.
Mas não durou e eu aceito isso. O infinito se eternizou em um momento criado por elementos físicos e finitos, logo, mesmo com a grandeza que o define, ele só se tornaria eterno na memória. Se se esta sentença faz algum sentido, eu já não sei. Mas vivo colecionando essas sensações banais que me tornam, de alguma forma, um ser infinito por dentro. Como um beijo bom em que o mundo para (sim, é um clichê que realmente existe); como quando eu pego a estrada, dirigindo e cantarolando com a banda favorita, que até me esqueço da onde vim e para onde vou; quando leio um trecho de um livro que me transporta para tantas outras ideias que me pego presa na mesma página horas depois. Entre outras situações banais que me tiram do eixo, da realidade, da rotina, do tempo e do espaço.
Repito: se isso faz sentido, eu já não sei. Mas ao invés de tentar entender, eu simplesmente sinto, coleciono e escrevo.